sábado, 7 de outubro de 2023

Juros já representam mais de metade da prestação




(Publicado no Diário Insular e no Diário dos Açores)


O Banco Central Europeu não tirou ainda o pé do acelerador e aumentou pela décima vez as taxas de juro de referência em 25 pontos base, fazendo com que a taxa de juro suba para 4,5%, com implicações nas prestações dos créditos à habitação.

A subida da taxa de referência tem consequência nas taxas Euribor, que servem de referência à maioria dos créditos à habitação. Segundo o INE a taxa de juro implícita no conjunto dos contratos de crédito à habitação atingiu, em Agosto, 4,089%, o valor mais elevado desde 2009. Os mesmos dados mostram que, desde Junho, o valor dos juros é superior ao capital amortizado e representa mais de metade da prestação.

Considerando a totalidade dos contratos, o valor médio da prestação mensal fixou-se em 379 euros em agosto, mais 9 euros que no mês anterior e mais 111 euros que em agosto de 2022 (aumento de 41,4%). Deste valor, 216 euros (57%) correspondem a pagamento de juros e 163 euros (43%) a capital amortizado (ver gráfico)

Inflação continua a ser o motivo da subida dos juros

A inflação já está a descer, mas ainda se espera que permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo, justifica o comunicado distribuído pelo BCE. As projecções macroeconómicas de Setembro para a área do euro, elaboradas por especialistas do BCE, indicam uma inflação média de 5,6% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025.

A autoridade monetária da Zona Euro, liderada por Christine Lagarde, justifica que a revisão em alta da inflação em relação a 2023 e 2024 reflecte uma trajectória mais elevada para os preços dos produtos energéticos e as pressões subjacentes sobre os preços permanecem altas, embora a maioria dos indicadores tenha começado a abrandar.

O BCE considera também que as condições de financiamento tornaram-se mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, o que constitui um importante factor para fazer a inflação regressar ao objectivo. O efeito desta dinâmica é espelhado por um maior enfraquecimento do enquadramento do comércio internacional, que levou os especialistas do BCE a reduzirem significativamente as suas projecções para o crescimento económico. O BCE espera agora que economia do espaço do euro cresça apenas 0,7% em 2023, 1,0% em 2024 e 1,5% em 2025.

 

BCE perspectiva que não haverá mais subidas

A boa notícia é que, pela primeira vez, o BCE abre também a porta a que o ciclo de subidas das taxas de juro que se iniciou em Julho do ano passado tenha chegado ao fim. Com base na sua actual avaliação, o conselho do BCE considera que as taxas de juro directoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno da inflação aos valores traçados como objectivo.

 

Governo aprova redução de 30%

O Conselho de Ministros do governo português aprovou, na passada quinta feira, uma medida para reduzir as prestações da casa durante dois anos e o reforço dos apoios às famílias mais pressionadas pela subida dos juros. O diploma refere que as famílias pagarão apenas 70% da Euribor durante dois anos mas terão de pagar mais tarde os juros que agora ficarem por pagar.

A redução será de 30% na taxa Euribor o que, números redondos, corresponde a cerca de 70 euros mensais por cada 100 mil de empréstimo para um prazo de 30 anos.

Após terminado o período de dois anos, a prestação voltará ao valor anterior em função do indexante original do contrato. Só começará a pagar ao fim de quatro anos. Conclusão: o cliente tem dois anos de moratória e quatro anos de carência sobre os juros descontados.

Têm surgido críticas relativamente a esta medida, afirmando-se que, no final, a banca ficará a ganhar.








 

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