(Publicado no "Diário dos Açores" de 27Dez2022
Baixo rendimento da indústria condiciona
PIB nos Açores
Rafael Cota
O PIB dos Açores em 2021 registou um
crescimento em termos reais de 5%, o segundo valor mais baixo e inferior à
média nacional, que foi de 5,5 %. Abaixo dos Açores em termos de crescimento
está apenas a região centro.
De acordo com os dados do INE, a variação do
PIB nos Açores, embora tenha beneficiado do crescimento claramente acima do
país do Valor Acrescentado Bruto, do turismo, incluindo o ramo do comércio,
transportes, alojamento e restauração (+13,3%), foi condicionada pelo
decréscimo dos ganhos no sector da indústria e energia (-3,3%).
Os números dos INE mostram que em 2021, ainda
com dados provisórios, todas as regiões cresceram relativamente a 2020,
superando o baixo valor registado o ano anterior em consequência da pandemia.
A Madeira foi a região que apresentou maior
crescimento, em consequência dos ganhos no turismo e actividades paralelas, bem
como dos serviços prestados às empresas e da administração pública, saúde e
educação, actividades com relevância significativa na estrutura produtiva da
região, que registaram ganhos, em volume, de 14,8%, 19,9% e 4,4%,
respectivamente.
No Alentejo, o acréscimo do PIB foi, em
grande medida, determinado pelo crescimento significativo da indústria
transformadora (25,6%), em particular em unidades de grande dimensão do sector
petroquímico, instaladas no complexo portuário, industrial e logístico de
Sines, e em menor escala pelo crescimento da indústria extractiva (27,8%).
O aumento de 5,6% do PIB observado na Área
Metropolitana de Lisboa e no Algarve, foi sobretudo reflexo do crescimento do
comércio, transportes, alojamento e restauração, com acréscimos em volume de
8,1% e 7,0%, respectivamente. O PIB destas regiões também beneficiou dos
crescimentos nos ramos dos serviços prestados às empresas da administração
pública, saúde e educação e das actividades imobiliárias.
Relativamente à região Norte, destaca-se o
crescimento da indústria e energia (6,2%), dos serviços de informação e
comunicação (11,3%) e da administração pública, saúde e educação (4,6%), ramos
que cresceram acima do país contribuindo para o crescimento do PIB desta
região.
A evolução relativamente moderada do PIB da
região centro traduz um crescimento inferior ao do país em todos os ramos de
actividade, com excepção da agricultura, silvicultura e pesca.
Além de apresentar um crescimento reduzido, o PIB dos Açores está agora mais distante da média europeia (66%) quando chegou a situar-se nos 74%.
Vendo as notas do INE sobre os ganhos e condicionamentos de cada região, verifica-se que o turismo foi o motor de uma boa parte do país, designadamente Algarve, a Madeira e Açores. Outras regiões beneficiaram de ganhos em sectores, como a indústria transformadora e extractiva no caso do Alentejo, a agricultura na região centro e os serviços na grande Lisboa.
Nos
Açores, apesar da alavacagem do turismo, segundo os dados do INE agora
conhecidos, o crescimento da economia está condicionado pelos ganhos reduzidos no sector da indústria, onde pontua o sector de maior dimensão e maior
robustez da economia na Região que é a agropecuária.
Já há
muito que se comenta o fato da indústria açoriana, em particular os
lacticínios, ter um rendimento reduzido e de não representar um motor mais
robusto no Valor Acrescentado Bruto.
Há
sugestões no sentido de conseguirem produtos de maior valora acrescentado, e na
realidade, algumas iniciativas de produtos artesanais ou semi-artesanais têm
conseguido bons resultados e uma boa valorização. Todavia, para um a região que
produz aproximadamente 600 milhões de litros de leite, (cerca de um terço da
produção nacional), esses produtos, representam – umas bilhas de leite.
Segundo
os especialistas que se têm debruçado sobre esta temática, é necessária uma estratégia
mais alargada que consiga abranger o volume significativo que representa em
particular a indústria dos lacticínios, porventura, apostando na produção à
base da natureza que é hoje um factor muito atractivo e, assim, muito
possivelmente se poderá conseguir um Valor Acrescentado Bruto mais
significativo para a indústria, em particular a indústria dos lacticínios.