sexta-feira, 20 de julho de 2018

Economia de novo em queda sem perspetivas de empregos nos sectores tradicionais.


A atividade económica dos Açores apresenta uma tendência decrescente, iniciada em meados de 2016, se prolongou por 2017 e, embora de forma menos acentuada, ainda se verifica no primeiro semestre de 2018, sem que a dinâmica do turismo e dos serviços seja capaz de compensar.
O indicador da atividade económica elaborado pelo Serviço Regional de Estatística dos Açores, agora distribuído, ilustra esse fenómeno que é comprovado, também, pelos indicadores do seu boletim trimestral.
Este fenómeno – que nasce já depois da superação de alguns efeitos da crise -- começou a verificar-se em finais de 2016, com descidas na produção de leite e da captura de peixe e prosseguiu depois em 2017 com uma quebra no abate de bovinos e suínos e na redução nas exportações de carne, peixe fresco e conservas.
Como já se previa, o aumento da atividade turística, trouxe um refrescamento em vários sectores e fez movimentar dinheiro, mas não trouxe um correspondente aumento de riqueza, dado que o turismo tem um valor acrescentado bruto reduzido em quase todas as áreas e os funcionários têm salários baixos na maioria das atividades relacionadas com o setor. Acresce que este ano, os números do turismo têm-se revelado menos animadores.
Do ponto de vista prático esta diminuição ou estagnação da economia e consequentemente do PIB tem algumas vantagens porque mantém a Região dentro dos parâmetros para não perder os apoios comunitários (PIB inferior a 75% da média da EU).
Mas, o facto, é que olhando para o quadro geral, a economia açoriana passa por alguns constrangimentos. A agricultura e a construção civil estão limitadas, a agropecuária, em consequência das restrições  impostas pelas fábricas, pelos elevados custos dos fatores de produção e pela manutenção do preço do leite ao produtor; a construção porque continua com poucos trabalhos e sem grandes folgas de ganhos. Logo não apresentam condições para criar novos postos de trabalho nos próximos anos.
Ainda recentemente, o Presidente da AICOPA, Pedro Marques, dizia que “o 1º Semestre de 2018 na Construção é o pior dos últimos 10 anos” (“Diário dos Açores” de 18 de Julho). Na pecuária prevêem-se grandes prejuízos devido à seca que se registou este ano, que vem agravar a situação no sector.
A nível nacional prevê-se um crescimento da construção, no corrente ano, de cerca de 4,5 % (embora ligeiramente inferior ao ano anterior), decorrente da construção de edifícios residenciais e da reabilitação urbana . Esse fenómeno não parece ter grande expressão nos Açores.
O turismo, apesar de já não apresentar o crescimento que se registou no início, ainda tem algum espaço de crescimento, mas os funcionários que saem da agropecuária e da construção civil, de um modo geral, não têm lugar no turismo a não ser com um longo período de formação.
Portanto, o crescimento do emprego terá de surgir em novos sectores ou em alteração de conceitos nos atuais sectores, aproveitando outras áreas da agricultura e da indústria que possam ser rentáveis na exportação ou na utilização na restauração e no consumo local. É um trabalho, que na opinião de muitos, já devia ter tido um impulso mais vigoroso, mas o discurso oficial e a aposta dos lavradores ainda continua a ser no sentido de utilizar animais de grande produção, que aliás se promove nos concursos em feiras agrícolas e os lavradores continuam a aumentar a produção para compensar as quebras no preço do leite
Se o crescimento da economia, não é por si só um problema, de resto acontece também a nível nacional (o banco de Portugal prevê para o corrente ano a nível nacional um crescimento da economia de 2,3%), já a criação de emprego será um problema mais difícil de ultrapassar, uma vez que não parece haver saída nos sectores tradicionais.
Só mesmo com apostas em novas áreas.

Texto e gráfico: Rafael Cota
Para “ Diário dos Açores”

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