sexta-feira, 15 de abril de 2022

Valor Acrescentado Bruto cresceu no turismo e desceu na agricultura

 (Publicado no "Diário Insular" de 13 de Abril e no " Diário dos Açores" de 14 de Abril)


O valor Acrescentado Bruto cresceu 1,9 pontos percentuais no sector do turismo, entre 2015 e 2019 (antes da pandemia) e desceu um ponto percentual na agricultura e pescas no mesmo período, reafirmando a importância que a atividade turística desencadeou na economia da Região..

 

O período entre 2015 e 2019 corresponde à expansão do turismo, altura em que se registavam crescimentos nas dormidas superiores a 20%, com repercussões nos serviços e na criação de empresas, direta ou indiretamente, ligadas ao sector.

Naturalmente que este crescimento será afetado, nos anos seguintes, pelos efeitos da pandemia, dados que só conheceremos mais tarde, uma vez que os indicadores referentes ao Valor Acrescentado Bruto demoram algum tempo a elaborar, uma vez que dependem de diversos indicadores e são normalmente divulgados com diferença de um ano no caso dos dados preliminares e de dois a três anos nos dados definitivos. Veja-se que, só agora foram divulgados os números definitivos referentes a 2019.

Muito provavelmente verificar-se-á uma quebra em 2020 e 2021 mas, tendo em conta que no final de 2021 já se registaram acréscimos significativos nas dormidas e acreditando-se que o corrente ano será um ano de retoma, é natural que o Valor Acrescentado Bruto volte a mostrar algum recuperação ou até uma nova dinâmica.

 

Efeitos positivos mas inseguros

 

Os valores disponibilizados pelo INE confirmam que o turismo tem efeitos positivos na economia e também não restam dúvidas que se trata de uma atividade que dinamiza muitas áreas.

Todavia, a pandemia veio demonstrar que se trata de um sector muito sensível, de tal modo que de um momento para o outro a atividade que estava dinamizando uma boa parte da economia, paralisou com graves efeitos em termos económicos e sociais.

Os economistas lembram que o boom do turismo nos Açores resultou, em grande parte, do receio de viajar para o Mediterrâneo, sobretudo o Norte de Africa, onde existem verdadeiros paraísos de turismo a preços muito atrativos. Também foram importantes as referências nas telenovelas e nos anúncios da projeção da natureza que hoje é hoje um fator com grande eco na decisão das pessoas e atrai muita gente. O anúncio das “vacas felizes” é um dos bons exemplos da projeção da natureza dos Açores que, segundo os entendidos na matéria, será no futuro o grande atrativo do arquipélago.

É provável que a guerra na Ucrânia volte a levar as pessoas a optarem por lugares mais longe do conflito, voltando os Açores a ser procurados, a não ser que o conflito dure demasiado tempo e  provoque efeitos graves nas economias familiares. Isso confirmará a tese de que o turismo é um valioso motor da economia, mas apresenta fragilidades difíceis de ultrapassar, sobretudo se se estão em causa investimentos avultados.

 

Agricultura com piores resultados

 

Como já esperava a agricultura registou, no mesmo espaço de tempo (2015 a 2019), um decréscimo, que deverá ter a ver com as dificuldades que o sector apresenta face ao aumento dos fatores de produção, sem o correspondente aumento do preço do leite e dos seus derivados, acrescido de uma enorme concorrência de muitos países das Europa.

Embora em termos absolutos, a Agricultura e Pescas tenha representado, em 2019, sensivelmente o mesmo volume que o turismo, será sempre um sector sólido, aproveitando as condições favoráveis das ilhas para a produção de erva. Precisa, naturalmente, de alguma reordenação no maneio, já por diversas vezes defendida, de modo a depender menos de fatores externos.

As pescas também têm registado diminuições no valor acrescentado, com a quebra das capturas, em particular do atum e com repercussão na indústria das conservas que também registou um decréscimo.

 

Economia dos Açores suportada pelos serviços públicos

 

Olhando o gráfico podemos ver que a maior volume do VAB nos Açores provém dos serviço, tendo à cabeça as atividades imobiliárias, seguindo-se a administração pública e o comércio e serviços. Se juntarmos todo o sector publico, incluindo a administração pública, a educação e a saúde, pode ver-se que só estes três setores representam um quarto do Valor Acrescentado Bruto da Região.

Em 2019, no total, o VAB foi de 3 883 milhões de euros o que representa 2,5% do total do país, valor superior à proporção da população. Os Açores têm, segundo o censos de 2021, 236 657 habitantes, enquanto o país tem 10 344 802 habitantes, ou seja a população dos Açores representa 2,3% do total da população. Podemos concluir que, nesta matéria, os Açores estão em vantagem.


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