Juros sobem em flecha e arrastam prestação da
casa
As taxas de juro que servem de base ao
cálculo da prestação do crédito à habitação estão a subir há mais de um ano. E
estão a fazê-lo a uma velocidade nunca antes vista. A Euribor a
12 meses, por exemplo, passou de valores negativos até março para estar hoje a
negociar acima dos 3,3%.
A principal causa desta situação é a subida
da taxa de inflação na zona euro, que obrigou o Banco Central Europeu (BCE) a
subir as taxas de juro, levando as instituições de crédito a actualizarem as
prestações.
Em Dezembro de 2022 o valor da taxa de juro
implícita no crédito à habitação atingiu os 1,898%, fazendo com que o valor
médio no total dos empréstimos esteja agora nos 299 euros. Desde o início do
ano passado, a história tem sido sempre esta e se a Euribor a três meses
já aumentou quase dois pontos percentuais, a Euribor a seis meses, a mais
utilizada no crédito à habitação em Portugal, já leva uma subida de mais de 2,5
pontos percentuais. A mesma taxa, a 12 meses, aumentou mais de três pontos
percentuais desde janeiro.
Os valores apresentados no gráfico
referem-se a valores médios, no conjunto dos empréstimos no total do país.
Simulações feitas, no mês de Novembro referentes a casos concretos, utilizando
exemplos para a Euribor a 6 meses, a 30 anos, pode ver-se que, numa prestação
de 100 mil euros, estando a pagar à volta de 307 euros vai passar a pagar
aproximadamente 421 euros, o que corresponde a um aumento de cerca de 114
euros.
Para um empréstimo de 150 mil euros,
estando a pagar 461 euros, passará para 632 euros o que representa um aumento
de 170 euros.
Noutro exemplo, mais recente, apresentado
pelo jornal online “ECO”, pode ver-se que um empréstimo de 150 mil euros a 30
anos, indexado à taxa Euribor a 12 meses com um spread de 1,2%, apresentava uma prestação de 462 euros em janeiro
do ano passado e hoje, após a revisão da taxa de juro no final de dezembro, a
prestação subiu 59%, para 736 euros.
Estes exemplos são apenas indicativos, uma
vez que existem diversas variantes, designadamente a taxa de esforço e regras
definidas pela instituição bancária.
Como se vê no gráfico relativo aos valores
médios, os bancos estão a diminuir o capital amortizado e a aumentar os juros,
para amenizar o total das prestações.
Acesso ao crédito mais difícil
O acesso ao crédito torna-se mais difícil nestas condições, já que, quanto maior for a subida das taxas de juro, menor será o montante que os bancos estão autorizados a emprestar aos consumidores. Ou seja, com o aumento do valor dos juros, a prestação para um mesmo nível de financiamento sobe, o que significa que o seu peso sobre o rendimento mensal dessa família será superior. Como, desde 2018, os bancos devem garantir que, no momento da concessão do crédito, a taxa de esforço das famílias não ultrapasse os 50% do seu rendimento, com o aumento das taxas de juro, respeitar este limite implica diminuir o montante financiado.
Renegociar o crédito
Segundo os economistas que se dedicam a
estas questões para mitigar o impacto da subida das taxas de juro, as famílias
podem tentar renegociar o crédito à habitação junto do banco através de uma
revisão do spread e dos seguros, optar pelo diferimento do capital e/ou alongar
a maturidade do contrato.
Mas, dizem, nenhuma solução tem maior
impacto no bolso que a amortização da dívida. Uma amortização de 20 mil euros
num empréstimo de 150 mil, significaria uma imediata redução de 98 euros na
prestação mensal da casa.
BCE poderá voltar a aumentar os
juros
Segundo um estudo da Economist Intelligence
Unit (EIU), divulgado esta semana e publicado no jornal “Dinheiro Vivo”, o
aperto monetário em curso pode despoletar uma nova vaga de stress
financeiro, com contágio a vários países do sul da Europa, em concreto "os
mais endividados".
Segundo os especialistas, o BCE, que é
presidido por Christine Lagarde deve, quase de certeza, aumentar novamente
taxas de juro na reunião do dia 2.
Portugal nunca é referido directamente no
estudo. Ultimamente, o país tem sido algo elogiado por estar a conseguir
reduzir o défice e a dívida pública, ao mesmo tempo que tem mostrado alguma
resistência contra os efeitos da crise inflacionista e energética.
Publicado no "Diário Insular" e "Diário dos Açores"
1 de Fev 2023
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