quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Taxas de juro continuam a subir

    • Juros sobem em flecha e arrastam prestação da casa

       

      As taxas de juro que servem de base ao cálculo da prestação do crédito à habitação estão a subir há mais de um ano. E estão a fazê-lo a uma velocidade nunca antes vista.  A Euribor a 12 meses, por exemplo, passou de valores negativos até março para estar hoje a negociar acima dos 3,3%.

      A principal causa desta situação é a subida da taxa de inflação na zona euro, que obrigou o Banco Central Europeu (BCE) a subir as taxas de juro, levando as instituições de crédito a actualizarem as prestações.

      Em Dezembro de 2022 o valor da taxa de juro implícita no crédito à habitação atingiu os 1,898%, fazendo com que o valor médio no total dos empréstimos esteja agora nos 299 euros. Desde o início do ano passado, a história tem sido sempre esta e se a Euribor a três meses já aumentou quase dois pontos percentuais, a Euribor a seis meses, a mais utilizada no crédito à habitação em Portugal, já leva uma subida de mais de 2,5 pontos percentuais. A mesma taxa, a 12 meses, aumentou mais de três pontos percentuais desde janeiro.

      Os valores apresentados no gráfico referem-se a valores médios, no conjunto dos empréstimos no total do país. Simulações feitas, no mês de Novembro referentes a casos concretos, utilizando exemplos para a Euribor a 6 meses, a 30 anos, pode ver-se que, numa prestação de 100 mil euros, estando a pagar à volta de 307 euros vai passar a pagar aproximadamente 421 euros, o que corresponde a um aumento de cerca de 114 euros.

      Para um empréstimo de 150 mil euros, estando a pagar 461 euros, passará para 632 euros o que representa um aumento de 170 euros.

      Noutro exemplo, mais recente, apresentado pelo jornal online “ECO”, pode ver-se que um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, indexado à taxa Euribor a 12 meses com um spread de 1,2%, apresentava uma prestação de 462 euros em janeiro do ano passado e hoje, após a revisão da taxa de juro no final de dezembro, a prestação subiu 59%, para 736 euros.

      Estes exemplos são apenas indicativos, uma vez que existem diversas variantes, designadamente a taxa de esforço e regras definidas pela instituição bancária.

      Como se vê no gráfico relativo aos valores médios, os bancos estão a diminuir o capital amortizado e a aumentar os juros, para amenizar o total das prestações.

       

      Acesso ao crédito mais difícil

       

      O acesso ao crédito torna-se mais difícil nestas condições, já que, quanto maior for a subida das taxas de juro, menor será o montante que os bancos estão autorizados a emprestar aos consumidores. Ou seja, com o aumento do valor dos juros, a prestação para um mesmo nível de financiamento sobe, o que significa que o seu peso sobre o rendimento mensal dessa família será superior. Como, desde 2018, os bancos devem garantir que, no momento da concessão do crédito, a taxa de esforço das famílias não ultrapasse os 50% do seu rendimento, com o aumento das taxas de juro, respeitar este limite implica diminuir o montante financiado.

       

      Renegociar o crédito

      Segundo os economistas que se dedicam a estas questões para mitigar o impacto da subida das taxas de juro, as famílias podem tentar renegociar o crédito à habitação junto do banco através de uma revisão do spread e dos seguros, optar pelo diferimento do capital e/ou alongar a maturidade do contrato.

      Mas, dizem, nenhuma solução tem maior impacto no bolso que a amortização da dívida. Uma amortização de 20 mil euros num empréstimo de 150 mil, significaria uma imediata redução de 98 euros na prestação mensal da casa.

       

      BCE poderá voltar a aumentar os juros

      Segundo um estudo da Economist Intelligence Unit (EIU), divulgado esta semana e publicado no jornal “Dinheiro Vivo”, o aperto monetário em curso pode despoletar uma nova vaga de stress financeiro, com contágio a vários países do sul da Europa, em concreto "os mais endividados".

      Segundo os especialistas, o BCE, que é presidido por Christine Lagarde deve, quase de certeza, aumentar novamente taxas de juro na reunião do dia 2.

      Portugal nunca é referido directamente no estudo. Ultimamente, o país tem sido algo elogiado por estar a conseguir reduzir o défice e a dívida pública, ao mesmo tempo que tem mostrado alguma resistência contra os efeitos da crise inflacionista e energética.



      Publicado no "Diário Insular" e "Diário dos Açores" 

      1 de Fev 2023








       

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