Inflação e desemprego com sinais contraditórios nos Açores
A inflação está a crescer nos Açores apresentando em janeiro deste ano o valor
de 1,01% quando um ano atrás se situava nos 0,07% e em valores negativos
(-0,07%) em Abril. O crescimento da inflação é uma situação que se verifica no
conjunto do país (1,52% em Janeiro, contra -0,05% em janeiro de 2021) e na
Europa (5,1% no lugar dos 0,9% em 2021). No caso da Europa o crescimento
resulta em particular da situação no sector da energia, como se vê no gráfico.
(Não são considerados aqui os previsíveis efeitos da guerra).
Nos últimos anos, a inflação esteve bastante baixa, por vezes até em valores
negativos, situação que foi motivo de preocupação dos responsáveis europeus
obrigando a baixar as taxas de juro. Isto, numa altura em que, por exemplo, os
Estados Unidos, já estavam a regularizar os juros, tranquilizando os sectores
financeiros.
Por enquanto, nos Açores a abstenção não é muito elevada, mas é previsível que
também venha a crescer (eventualmente com algum desfasamento, como se tem
verificado no histórico deste indicador), seguindo o que se passa no país e na
Europa. De resto, uma parte do Índice de Preços no Consumidor nos Açore tem
causas externas.
“Curva de Philips”
Desde os anos cinquenta do século passado, economistas de diferentes escolas de
pensamento concordam com a proposição de que, “no curto prazo, existe uma
relação inversa entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego. Ou seja,
quanto maior a taxa de desemprego menor a taxa de inflação e vice-versa. A esta
relação dá-se o nome de “curva de Phillips”, em homenagem ao economista que a
propôs pela primeira vez".
Quer isto dizer que em situações normais, a subida da inflação resulta de um
melhor desempenho da economia, logo mais oportunidades de emprego.
Este fenómeno está, de resto, a acontecer no país e na Europa. Ao contrário do
que se esperava, como consequência da pandemia, o taxa de desemprego está a
decrescer.
No conjunto da Europa, passou de 7,5% em Dezembro de 2020 para 6,4% em Dezembro
de 2021, em Portugal, no mesmo espaço de tempo, baixou de 6,9% para 5,9%
(valores harmonizados) e em Espanha, que apresenta sempre valores elevados,
desceu de 16,3% para 13%, de acordo com dados do Eurostat.
Nos Açores os sectores mais penalizados, no último ano, no tocante à população
empregada (variação homóloga), foi a Educação (-24%,) a construção (- 13%) –
sobretudo no último trimestre -- e os serviços (-2,5). Em contrapartida, a
saúde registou um crescimento em termos de emprego (+15%), assim como o turismo
(+25%), relativamente a 2021, e a indústria transformadora (+4,1%).
O total da população empregada registou uma variação de -2,9%, o que
corresponde sensivelmente a menos 3300 empregos.
As razões desta quebra da população empregada, registada em particular no 4º
trimestre de 2021, poderão ter causas que não sejam estritamente uma quebra da
economia. Parte deste pico pode estar relacionado com a metodologia utilizada
pelo INE para determinar a taxa de desemprego.
Quem é considerado desempregado
O INE considera desempregado “todos os indivíduos com idade dos 16 aos 74
anos que, no período de referência, ou não tinha trabalho remunerado nem
qualquer outro ou tinham procurado ativamente um trabalho, remunerado ou não,
ao longo de um período especificado para encontrar um emprego remunerado ou
não”. Não se trata de uma contagem em termos absolutos, mas de uma
amostragem.
É possível que durante a pandemia as pessoas tenham deixado de procurar
emprego, ou por receio de saírem de casa, sobretudo no início, ou pela
suposição de que em tempo de crise não conseguiriam emprego e esse acumulado se
tenha sentido no último trimestre de 2021.
O
facto é que a taxa de desemprego cresceu significativamente neste período.
Porventura, será importante perceber se as causas estão relacionadas apenas com
aspetos da metodologia, ou se efetivamente o estado da economia é responsável,
e em que medida, por esta situação que vai em sentido contrário ao que se passa
no país e na Europa.
Até porque existem vários indicadores que apresentam valores positivos no
Indicador a Economia dos Açores, à exceção do turismo.
Juros da habitação devem subir em Abril
A subida da taxa de inflação tem, porém, outras consequências mais graves para
os cidadãos e para a economia. O facto da inflação continuar a subir na Zona
Euro, como já se referiu, para estabilizar o fenómeno, o Banco Central Europeu
(BCE) admite aumentar as taxas de juro diretoras já em 2022 e poderá mesmo
fazê-lo mais do que uma vez ao longo deste ano. Esta subida terá impacto nas
taxas da Euribor às quais está indexada a maioria dos créditos habitação e por
conseguinte, na prestação da casa, mudança que deverá sentir-se já a partir de
Abril.
As alterações vão sentir-se também na idade da concessão de empréstimos. Com os
limites recomendados pelo Banco de Portugal, só quem tem até 30 anos poderá
continuar a aceder ao prazo máximo do empréstimo de 40 anos.
A partir daí, os prazos ‘encolhem’. Dos 30 aos 35 anos de idade, o limite para
o empréstimo passa a ser de 37 anos e para os clientes com mais de 35 anos, o
novo patamar são 35 anos de crédito.
Com menos tempo para pagar o empréstimo, as prestações acabarão por ficar mais
altas.
Classes baixas mais atingidas
Em resumo, a subida da taxa da inflação deveria representar um sinal positivo
com um melhor desempenho da economia, em consequência de um maior poder de
compra por parte dos cidadãos, permitindo aos empresários atualizarem alguns
preços. Todavia isso não está a acontecer, com a agravante de que a acelearação
do Índice do Preço no Consumidor é igual para todos e, portanto, afeta tanto as
classes altas, que não sentem grandemente o seu efeito, como as classes baixas
dificultando, ainda mais, as frágeis situações sociais.
Rafael Cota
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