sexta-feira, 1 de junho de 2018

(Publicado no "Diário dos Açores" de 27 de Maio)
 População empregada aproxima-sedos valores de há dez anos


A população empregada nos Açores,
só agora, se aproxima dos valores
que existiam há 10 anos atrás, uma
situação que é consequência da crise,
mas também do novo quadro nos
sectores que tradicionalmente eram
os criadores de emprego.
No gráfico que se publica, referente
ao total da população empregada,
a curva mostra claramente a descida
da população empregada a partir de
2008 e a recuperação depois de 2013,
para a qual contribuiu significativamente
o sector do turismo, a partir
da liberalização das ligações aéreas.

Turismo absorve
mas ainda é muito sazonal

Essa curva ascendente foi interrompida
no primeiro trimestre do
corrente ano, também, em grande
parte por causa do turismo e serviços,
sinal de que estes sectores ainda têm
uma faixa significativa de empregos
sazonais.
Esse efeito é visível nos gráficos,
quer no que representa o total da
população empregada, quer no que
se refere em particular ao sector do
turismo, onde se regista uma descida
apreciável, depois de, nos anos anteriores,
se terem criado mais de mil
postos de trabalho.
Este fenómeno pode estar relacionado
com alguma prudência dos empresários,
uma vez que o turismo não
crescerá sempre com as taxas que se
têm vindo a registar e, porventura,
também, por falta de qualificação dos
funcionários.
Mas a razão mais provável é que
o sector ainda apresenta uma visível
sazonalidade.

Recuperação depois da crise

Certamente que a época alta trará
nova vaga de visitantes e voltarão a
surgir novos lugares no turismo e atividades
similares, recuperando, certamente,
os valores anteriores.
Mas o fenómeno mais curioso é
que só agora se estão a retomar os
valores de 2008 que foram perdidos
com a crise.
A curva do gráfico mostra que a
população empregada chegou a cair
para os 97 mil, depois foi crescendo
mas, apesar da recuperação de alguns
sectores, no 1º trimestre de 2018, ainda
não tinha atingido os valores de há
dez anos atrás.
Outro fenómeno que caracteriza
atualmente a população empregada é
a exigência de formação que se coloca
para determinadas funções.
Apesar do número de desempregados
os empresários continuam a
afirmar que têm falta de trabalhadores
em determinadas áreas.

Há um novo quadro
na população empregada
nos Açores

Na realidade, durante muito tempo
o crescimento do emprego foi assegurado
pela Função Pública, num determinado
nível, e noutro patamar na
agricultura e na construção, que iam
servindo de “tampão”, assegurando
alguns postos de trabalho evitando
que surgissem grandes perturbações
sociais e sem grandes alterações nos
indicadores do trabalho.
Agora ambos os sectores – agricultura
e construção - estão em crise
e portanto essa complementaridade
deixou de ser verificar.
A função pública também dificilmente
poderá crescer, pelo contrário
a tendência é ser objeto de uma
reestruturação.
Mesmo a inclusão das empresas
públicas não representará um significativo
aumento no sector, já que são
empresas com poucos funcionários.
Em síntese, há um novo quadro na
economia da Região onde só empreendimentos
em novos sectores poderão
criar empregos.
Um deles é, naturalmente, o turismo,
que tem capacidade de criar
empregos directos e de potenciar empreendimentos
em sectores similares
como já está a acontecer em diversas
áreas dos serviços, mas não será suficiente,
porque o turismo não vai crescer
sempre. Vai estabilizar.
Não será, portanto, suficiente para
fazer crescer a população empregada.

Há que remodelar de forma mais
profunda vários sectores, desde logo
a agricultura - que continuará a ser o
sector mais sólido da economia, face
às condições favoráveis das ilhas.

Remodelar o sector

Mas, será necessário proceder a
uma grande remodelações no sector,
complementando com a produção de
carne, de forma ainda mais significativa
e com a agricultura em escala
que possa ser rentável e consiga abastecer
as grandes superfícies e fornecer
localmente os restaurantes a preços
competitivos, produtos que possam
ser consumidos pelos turistas, o que
corresponderá uma forma de exportação
muito significativa.
Será necessário melhorar o transporte
marítimo e aéreo de mercadorias
entre as diversas ilhas para que
existir um mercado interno mais eficiente
e com menos custos.
Muitas das medidas para alargar a
criação de empregos, não resultarão
apenas da injecção de dinheiros e da
concessão de subsídios, mas da mudança
de conceitos.


Texto e gráficos de Rafael Cota
Para “Diário dos Açores”

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