quarta-feira, 13 de junho de 2018

Comercialização de produtos lácteos rendeu 300 milhões de euros


A comercialização de produtos lácteos, incluindo as vendas nos Açores, no continente português e as exportações, rendeu, em 2017, cerca de 300 milhões de euros, sendo que a maior fatia do rendimento provém do queijo e da manteiga. Juntam-se ainda outros produtos, designadamente, iogurtes, natas e soro, que pouco contam em termos de volume e o leite em pó que representa cerca de 16 mil toneladas, mas que tem um valor muito baixo.
A maior parte destas vendas é destinada ao continente português, totalizando 167 mil toneladas, enquanto para os países estrangeiros apenas saem, cerca de 6 por cento. No primeiro trimestre de 2018 a comercialização de produtos lácteos diminuiu ligeiramente, mas as receitas aumentaram, em particular a manteiga que rendeu mais 28%, mas face ao cenário pressente, é pouco provável que os valores globais se alterem.
Há muito que este quadro é conhecido, isto é, as vendas mais significativas vão para o continente português e os produtos com maior rendimento são o queijo e a manteiga.
Também há muito que se coloca em causa a produção de leite em pó, que tem um rendimento muito pequeno, cerca de 2,53 euros o Kg, tendo ainda que ter em conta o custo da energia para a sua transformação. É metade o valor da manteiga e do queijo. Desde há muitos anos que a Região transforma em leite em pó entre 16 mil e 18 mil toneladas, uma quantia que representa hoje à volta  de 7%, uma vez que a produção total de leite praticamente duplicou nos últimos 20 anos.
Naturalmente que a produção de leite em pó se justificará para dar resposta aos picos de produção e porque se trata de um produto com maior tempo de validade, mas representa muito pouco em termos de valor acrescentado.
Mas estas contas vão ter de ser equacionadas agora que se fala numa redução dos apoios à lavoura e portanto indústria e produtores terão que de por mais este elemento no prato da balança, juntamente com outros que têm vindo a penalizar os lavradores, designadamente o custo das rações, dos adubos e dos combustíveis.
O facto é que, apesar de todas as indicações no sentido de reduzir a produção de leite, os lavradores continuam a produzir cada vez mais, de 2016 para 2017 a produção de leite cresceu cerca de 1,5 % e nos primeiros três meses do corrente ano já aumentou 3,1%.
Resta saber se este aumento vai para produtos com maior valor, ou se vai ser transformado em leite em pó que tem um rendimento quase nulo. Há quem afirme que para muitas lavouras, que produzem com grande recurso às rações, muito do leite produzido já não paga os custos, reforçando a ideia de que está na altura de remodelar a agropecuárias, com vacas mais pequenas, privilegiando o uso da pastagem, com menor produção mas também com menor custos.
De resto algumas fábricas já começaram a penalizar os lavradores que ultrapassam determinados limites de produção, mas o discurso oficial continua no sentido de aumentar a produção de leite, com a justificação de serve para compensar o menor rendimento do preço do leite.
Está na altura de fazer ser realista, mudar os conceitos e incentivar, de forma ainda mais intensa a produção de carne e a produção de hortícolas, que podem criar mais empregos e beneficiarão do mercado alargado na restauração, em função do aumento dos turistas.
Mantendo como base a produção de leite, uma nova agricultura modernizada e eficiente, poderá inclusivamente ter interesse no mercado estrangeiro – como já tem a floricultura – aproveitando a imagem que os produtos da marca Açores que já se notabilizaram em muitos setores do continente.


Publicado no "Diário dos Açores" de 13 de Junho de 2018

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