A comercialização de produtos lácteos, incluindo as vendas
nos Açores, no continente português e as exportações, rendeu, em 2017, cerca de
300 milhões de euros, sendo que a maior fatia do rendimento provém do queijo e
da manteiga. Juntam-se ainda outros produtos, designadamente, iogurtes, natas e
soro, que pouco contam em termos de volume e o leite em pó que representa cerca
de 16 mil toneladas, mas que tem um valor muito baixo.
A maior parte destas vendas é destinada ao continente
português, totalizando 167 mil toneladas, enquanto para os países estrangeiros
apenas saem, cerca de 6 por cento. No primeiro trimestre de 2018 a
comercialização de produtos lácteos diminuiu ligeiramente, mas as receitas
aumentaram, em particular a manteiga que rendeu mais 28%, mas face ao cenário
pressente, é pouco provável que os valores globais se alterem.
Há muito que este quadro é conhecido, isto é, as vendas mais
significativas vão para o continente português e os produtos com maior
rendimento são o queijo e a manteiga.
Também há muito que se coloca em causa a produção de leite
em pó, que tem um rendimento muito pequeno, cerca de 2,53 euros o Kg, tendo
ainda que ter em conta o custo da energia para a sua transformação. É metade o
valor da manteiga e do queijo. Desde há muitos anos que a Região transforma em
leite em pó entre 16 mil e 18 mil toneladas, uma quantia que representa hoje à
volta de 7%, uma vez que a produção total de leite praticamente duplicou
nos últimos 20 anos.
Naturalmente que a produção de leite em pó se justificará
para dar resposta aos picos de produção e porque se trata de um produto com
maior tempo de validade, mas representa muito pouco em termos de valor
acrescentado.
Mas estas contas vão ter de ser equacionadas agora que se
fala numa redução dos apoios à lavoura e portanto indústria e produtores terão
que de por mais este elemento no prato da balança, juntamente com outros que
têm vindo a penalizar os lavradores, designadamente o custo das rações, dos
adubos e dos combustíveis.
O facto é que, apesar de todas as indicações no sentido de
reduzir a produção de leite, os lavradores continuam a produzir cada vez mais,
de 2016 para 2017 a produção de leite cresceu cerca de 1,5 % e nos primeiros
três meses do corrente ano já aumentou 3,1%.
Resta saber se este aumento vai para produtos com maior
valor, ou se vai ser transformado em leite em pó que tem um rendimento quase
nulo. Há quem afirme que para muitas lavouras, que produzem com grande recurso
às rações, muito do leite produzido já não paga os custos, reforçando a ideia
de que está na altura de remodelar a agropecuárias, com vacas mais pequenas,
privilegiando o uso da pastagem, com menor produção mas também com menor
custos.
De resto algumas fábricas já começaram a penalizar os
lavradores que ultrapassam determinados limites de produção, mas o discurso
oficial continua no sentido de aumentar a produção de leite, com a justificação
de serve para compensar o menor rendimento do preço do leite.
Está na altura de fazer ser realista, mudar os conceitos e
incentivar, de forma ainda mais intensa a produção de carne e a produção de
hortícolas, que podem criar mais empregos e beneficiarão do mercado alargado na
restauração, em função do aumento dos turistas.
Mantendo como base a produção de leite, uma nova agricultura
modernizada e eficiente, poderá inclusivamente ter interesse no mercado
estrangeiro – como já tem a floricultura – aproveitando a imagem que os
produtos da marca Açores que já se notabilizaram em muitos setores do
continente.
Publicado no "Diário dos Açores" de 13 de Junho de 2018
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